19.9.09

Muda-se o ser, muda-se a confiança















Ana Gomes:
28/10/2008
«Enquanto, o PC e o BE mantiverem o radicalismo e a irresponsabilidade política que os afasta de qualquer aliança de governo, as hipóteses de governo do PS exigem que ele suplante eleitoralmente pelo menos a soma do CDS e do PSD.»
18/9/2009
«“Com o BE não só acho que é possível como é positivo”, diz Ana Gomes que acrescenta que esta coligação traduziria a “sociologia de esquerda” que marca a maioria da população.»

Ana Gomes mudou a opinião que tinha do Bloco há menos de um ano ou são as sondagens quem mais ordena? As duas coisas, muito provavelmente. Nada a criticar, antes pelo contrário – realismo e frontalidade são sempre bem-vindos.

Mas não está sozinha: à medida que os dias passam, vão aparecendo vozes nas hostes socialistas, que apontam timidamente na mesma direcção. Será que isso se sentirá também onde se têm manifestado as maiores barbaridades contra o Bloco? A seguir com atenção.

Uma magnífica leitura para uma tarde de Sábado


Demasiada felicidad, um texto de Antonio Muñoz Molina no Babelia de hoje.

«Nunca he tenido la certeza de vivir en un solo mundo, la tranquilidad de una sola pertenencia indudable. (…) Los espías de Le Carré, de Chesterton y de Graham Greene eran nuestros héroes morales: gente que parece irreprobablemente una cosa y resulta que es outra. (…) El sentimiento de incertidumbre y provisionalidad me ha seguido acompañando en cada sitio donde he estado, en cada cosa que he hecho. Cobra otras dimensiones con el paso de los años.»

Pesadelos no mundo global













Apesar de não ter sido eleito à primeira volta, o próximo director da UNESCO será Farouk Hosni, ministro da cultura do Egipto, conhecido pelo seu anti-semitismo – um «anátema para aquele templo de cultura e de diálogo». Por razões diplomáticas, dizem «eles»…

Quanto à Assembleia Geral da ONU, ela será presidida durante um ano pela Líbia (também membro não permanente do Conselho de Segurança). Kadhafi estará presente, pela primeira vez em quarenta anos, na sessão de abertura da Assembleia na próxima 3ª feira.

Assim não vamos lá...

18.9.09

Ni le mal, tout ça m’est bien égal

O Ramadão do Presidente













Para Cavaco Silva, o período eleitoral é uma espécie de Ramadão em que se sente obrigado a abster-se de uma série de coisas - por exemplo, obter informações sobre questões de segurança que, alegadamente, poderão tê-lo atingido e, ainda mais, pronunciar-se sobre o facto trivial de ver de um dos seus principais assessores envolvido numa complicada tramóia.

Para ele, isto significa ser «isento e independente em relação a todos os partidos políticos». Eu direi que, de isenções e independências como estas, está certamente o inferno cheio.


P.S. - Entretanto, é grande a confusão na comunicação social - e continuará certamente nas próximas horas. Aqui, uma nota que a Direcção Editorial do Público acaba de divulgar.

A César o que é de César, às vezes e quando dá jeito
















Ontem, perante vinte e dois membros da Conferência Episcopal Brasileira, Bento16 afirmou que «os sacerdotes devem permanecer afastados de um engajamento pessoal na política, a fim de favorecerem a unidade e a comunhão de todos os fiéis e assim poderem ser uma referência para todos.»

E porque será que duvido que fizesse um discurso semelhante se tivesse à sua frente bispos espanhóis que pedem que não se vote nos que negoceiam com terroristas ou aprovam o casamento de pessoas do mesmo sexo?…
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P.S. - Bem a propósito, a Shyznogud chamou a atenção para isto, nesta Caixa de Comentários.

«A peregrinação de Setembro foi presidida pelo bispo auxiliar de Lisboa, D. Carlos Azevedo, que criticou projectos políticos que "ratificam a decadência humana, em lugar de dignificar a qualidade de vida e elevar o nível das relações e dos vínculos entre as pessoas".
O prelado entende que tais "projectos políticos" servem para "tornar a vida feia e confundir as mentes". (…)
A Conferência Episcopal Portuguesa emitiu, em Abril, uma Nota Pastoral sobre as eleições - Direito e dever de votar -, com a intenção de "formar as consciências" dos católicos na hora de votarem. Os bispos entendem que, em liberdade de consciência, os católicos devem votar tendo em conta "os valores éticos que procedem da vivência da sua fé". O secretário da CEP, Pe. Manuel Morujão, nega que a Igreja esteja a orientar o voto dos católicos.»


Comentários, para quê.

17.9.09

Reformismo e espírito positivo













Já aqui escrevi mais de uma vez que Zé Neves tem vindo a publicar, no 5 Dias, algumas das melhores reflexões sobre os tempos que correm – no meu entender, como é óbvio.

Um novo texto põe em causa o argumento das benfeitorias do reformismo, tal como ele tem vindo a ser defendido, até à exaustão, por Sócrates e seus seguidores. Em nome de uma sacrossanta estabilidade que exclui o imprevisível.

«Sócrates procuraria passo a passo, grão a grão, ir melhorando o actual estado de coisas, gerindo o possível – e isto seria uma esquerda moderna e democrática. O problema em tudo isto está naquilo que se entende por possível. É que a política não é a simples gestão do possível mas sim uma luta pelo que é e deixa de ser possível e pelo que se entende como possível, impossível, necessário, inevitável. Isto mesmo deveria ficar à vista de toda e qualquer esquerda, mais não fosse por obra e graça da actual crise, que interrompe o que era inevitável e introduz o aleatório na ordem do previsível. Quem diria, há um ano atrás, que um dos pontos fundamentais da actual campanha seriam as nacionalizações ou o reforço dos serviços públicos?»

Aceita-se como ponto de partida indiscutível que o objectivo é ir aperfeiçoando o sistema em que vivemos, sem se admitir que algo de diferente venha a estar um dia no horizonte. É curto e é empobrecedor.

«O PS desvaloriza a utopia e a resistência e limita-se ao que se vê, nunca percebendo que há sempre mais do que uma forma de ver a realidade e que o que é impossível para uns chega a ser necessário para outros. Para muitos apoiantes de Sócrates é impossível acabar com a exploração laboral, para outras pessoas isso é simplesmente necessário. A realidade não é um dado mas é um problema – para o bem e para o mal – e só uma esquerda que tenha problemas com a realidade é que merece o nosso voto. Se é para cultivar a paz social e a harmonia entre os seres humanos, rejeitar o conflito social e fazer apelos à unidade nacional e ao avanço de Portugal e acabarmos todos a regar as florzinhas do jardim e dar milho aos pombos no reino do contentamento, então mais vale votar no partido da Laurinda Alves do que no partido de José Sócrates.»

É uma bela imagem…

Parece que já está












«…segundo mandato de presidente da Comissão Europeia, com uma maioria absoluta de 382 votos a favor, 219 contra e 117 abstenções.»

Doeu, mas paciência… Melhores dias virão.

Registe-se: «Entre os socialistas portugueses, só Ana Gomes anunciou que não votaria a favor, optando pela abstenção.»
(E a própria explica porquê.)

P.S. - Versão inglesa de um artigo do Der Speigel, demolidor para Barroso. (Via Helena Araújo)

I have not brought you hope, I have not paid your fee

15.9.09

Decadência

Via Generación Y.

«Estaban a tres metros uno del otro y orientaron sus móviles -como dos cowboys en mitad de un duelo- para lanzarse el video clip “Decadencia” y las últimas fotos de Carlos Lage. La información viajó por el aire y se almacenó en la memoria de cada artilugio telefónico. No quedaron rastros del envío, ni siquiera los que estaban alrededor se dieron cuenta que casi cincuenta megabytes habían cruzado el parque en unos breves minutos.»

Política pop
















Quando a imagem se converte num fim em si mesma e os políticos conhecem melhor o universo do marketing do que os conceitos teóricos que devem reger a sociedade, é porque já entrámos no mundo da política pop. Se Berlusconi é, sem qualquer espécie de dúvida, o seu expoente máximo na Europa, muitos outros líderes não estão isentos de algumas tendências perigosas neste dominio.

Quem o diz é Claudio Magris, em artigo do Público.es de hoje. Matéria para reflexão nos días que correm.

14.9.09

Memória
















Hoje e amanhã estarei por ali , mas passarei também por aqui.

Cogitações (10)

«Porque toda esta paixão agora parece gasta, e as paixões contrárias que despertou correspondentemente redundantes, os analistas de hoje tendem a menosprezar as “guerras culturais” ideológicas do século xx, e os desafios doutrinários e contradoutrinários, como um capítulo encerrado. O comunismo defrontou o capitalismo (ou o liberalismo): perdeu, tanto no campo das ideias como no terreno, e portanto ficou para trás. Mas ao desprezar as promessas falhadas e os falsos profetas do passado, também nos apressamos excessivamente a subestimar – ou simplesmente a esquecer – a sua sedução. No fim de contas, porque é que essas promessas e esses profetas atraíram tantos cérebros talentosos (para não falar de milhões de eleitores e activistas)? Devido aos horrores e receios da época? Talvez. Mas será que as circunstâncias do século xx foram realmente tão invulgares, tão únicas e irrepetíveis, que podemos ter a certeza de que não mais voltará aquilo que impeliu homens e mulheres para as grandes narrativas da revolução e na renovação? Será que os planaltos ensolarados da “paz, democracia e mercado livre” chegaram mesmo para ficar?»

Tony Judt, O século xx esquecido, p. 27.

Desavenças
















«Pareceu-me uma cena da vida conjugal, cada um culpando o outro da ruptura da união de facto e do mau comportamento da prolífica descendência de problemas que ambos e os respectivos partidos geraram e deixaram ao país e andam hoje por aí à solta, entregues a si mesmos, e senti-me desconfortavelmente na pele de um consultor sentimental. (…) A partilha de bens e de responsabilidades parentais de um casal desavindo nunca é coisa bonita de ver.» (Manuel António Pina, hoje no JN)

E, no day after, assistiremos a intermináveis discussões para sabermos se ficamos só com o pai ou só com a mãe, se eles chegam a entendimento para uma guarda conjunta ou se nos entregam a uma IPSS situada ali para os lados de Belém. Resistiremos a tudo.

13.9.09

Para mentes inquietas










Não podia estar mais de acordo com a crónica de Vasco Pulido Valente no Público de hoje. À medida que os dias vão passando, e que vou vendo a agressividade com que se desenterram todos os argumentos contra os perigos de ingovernabilidade, julgo que vale a pena parar e ver os lados positivos do panorama que teremos, mais do que provavelmente, dentro de duas semanas.

«Vamos ter, portanto, se as sondagens não erram, uma certa agitação política: uma perspectiva que perturba a mente ordeira de alguns portugueses.
Mas será essa agitação em si própria má? Não me parece. Em primeiro lugar, porque um parlamento dividido, de que o governo dependerá, readquire alguma da dignidade que perdeu desde 1989. Em segundo lugar, porque um Parlamento dividido é um Parlamento vigilante, que tenderá a expor (e a punir) qualquer abuso, favorecimento ou fraude, que venha de cima. Em terceiro lugar, porque Portugal precisa de hábitos de negociação e compromisso, que, como já se viu, a maioria absoluta dispensa ou militantemente rejeita. E, por fim, em quarto lugar, porque o cidadão comum, com a incerteza, talvez se comece a interessar pela vida pública. Isto, para mim, basta.»

Só mais uma coisa e pela quinquagésima vez: nada leva a crer que o mundo vá acabar na madrugada de 28 de Setembro…

Outros cartazes, outras campanhas (6)


Uma foto que dispensa palavras